A conversão de 10% de pastagens pode dobrar a produção de biocombustíveis
Brasil, Argentina, Colômbia e Guatemala apresentam demanda crescente por biocombustíveis, além de áreas disponíveis para produção sustentável e políticas de incentivo à descarbonização energética. Estas são algumas das conclusões do estudo “Biofuels in Emerging Markets: Potential for sustainable production and consumption”, elaborado pelos pesquisadores do Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) da Fapesp. A avaliação, que será lançada na próxima terça-feira, dia 23 de maio, teve como foco a produção de etanol e biodiesel de milho, cana-de-açúcar, soja e óleo de palma nos diferentes países e levou em conta as políticas, infraestrutura local, disponibilidade de terras, produtividade das culturas, nível tecnológico e os impactos técnicos, econômicos e climáticos relacionados ao potencial de expansão dos biocombustíveis.
“Os países analisados são responsáveis por 24% da produção mundial de biodiesel e 29% da produção mundial de etanol”, destaca Gláucia Souza, professora do Instituto de Química da USP e coordenadora do BIOEN, “nossas análises mostraram que este é um setor consolidado e viável, competitivo com os preços da gasolina e do diesel e com grandes benefícios ambientais, como a diminuição de emissões de gases de efeito estufa e recuperação de estoques de carbono no solo”.
Os pesquisadores avaliaram as opções para aumentar a produção de biocombustíveis nos países estudados e identificaram que a conversão de pequenas áreas que hoje já são utilizadas como pastagens (de 0,1% para 10%) poderia adicionar uma quantidade de área suficiente para dobrar a produção de biocombustíveis. Esse aumento de produção é bem-vindo, visto que a demanda também é alta. Brasil, Argentina e Colômbia possuem legislação implementada e com grande aceitação para a mistura de biocombustíveis aos combustíveis fósseis. Já a Guatemala tem previsão para a implementação de políticas locais a partir de 2024, até o momento, todo o biocombustível gerado no país é exportado.
“A tecnologia de veículos flex-fuel, que permite aos consumidores escolher entre gasolina e etanol, tem sido um facilitador do uso de biocombustíveis, além de contribuir para diminuição da poluição nas cidades, um problema importante em muitas economias emergentes”, explica Gláucia Souza. As reduções nas emissões de carbono quando biocombustíveis substituem os combustíveis fósseis variam de 37% (etanol de milho substituindo gasolina) a 84% (óleo de palma substituindo diesel).
O impacto econômico da diminuição das emissões de carbono também foi avaliado: juntos, os quatro países estão deixando de lançar na atmosfera 68 milhões de toneladas de CO2. Se os créditos do mercado de carbono para 1 tonelada de emissão evitada de CO2 forem vendidos a US$ 10, por exemplo, os produtores de biocombustíveis no Brasil ganhariam US$ 599 milhões por ano, e os produtores de biocombustíveis na Argentina, Colômbia e Guatemala obteriam lucros adicionais de aproximadamente US$ 58, US$ 21 e US$ 3 milhões, respectivamente, com base em suas respectivas produções em 2019.
O documento “Biofuels in Emerging Markets: Potential for sustainable production and consumption” foi produzido pelo BIOEN como parte da Força Tarefa de Bioenergia da Agência Internacional de Energia ( https://www.ieabioenergy.com ) e foi lançado em 23 de maio de 2023 durante o evento “WS29: Opportunities of bioenergy and biofuels in developing economies”.
A mesa redonda de lançamento contou com a participação de Gláucia Souza além de Rainer Janssen (WIP Renewable Energies), Robert Malina (Hasselt University), Megersa Abate (World Bank) e Farai Chireshe (WWF South Africa) e pode ser vista na íntegra abaixo: